
Autor: Ally Condie
Editora: Suma de Letras
ISBN: 9788560280810
Páginas: 240
Título Original: Matched
Nota: 3 Estrelas
Sinopse: Cassia tem absoluta confiança nas escolhas da Sociedade. Ter o destino definido pelo sistema é um preço pequeno a se pagar por uma vida tranquila e saudável, um emprego seguro e a certeza da escolha do companheiro perfeito para se formar uma família. Ela acaba de completar 17 anos e seu grande dia chegou: o Banquete do Par, o jantar oficial no qual será anunciado o nome de seu companheiro. Quando surge numa tela o rosto de seu amigo mais querido, Xander – bonito, inteligente, atencioso, íntimo dela há tantos anos -, tudo parece bom demais para ser verdade. Quando a tela se apaga, volta a se acender por um instante, revelando um outro rosto, e se apaga de novo, o mundo de certezas absolutas que ela conhecia parece se desfazer debaixo de seus pés. Agora, Cassia vê a Sociedade com novos olhos e é tomada por um inédito desejo de escolher. Escolher entre Xander e o sensível Ky, entre a segurança e o risco, entre a perfeição e a paixão. Entre a ordem estabelecida e a promessa de um novo mundo.
Comentei no post “Novos na Família #3” que havia comprado o box da trilogia Destino, e que já estava apaixonada pelas capas há quase um ano. Lembro de ter encontrado o primeiro livro por um mero acaso no Submarino, naquelas “recomendações” que aparecem enquanto você está olhando outro produto, e a capa me chamou muito a atenção. Abri o link do produto, fui fuçar e depois resolvi procurar mais no Skoob. Aí me apaixonei, tanto pela sinopse quanto pela capa, mas nunca consegui comprar. Sempre ficava ali, no canto da mente, naquela de “preciso ler um dia”, mas nunca comprava de fato. O problema nisso foi que, quando finalmente comprei, acabou não sendo tudo o que estava esperando.

O livro conta a história da Cassia Reyes, uma garota de 17 anos que não poderia estar mais feliz com a vida na Sociedade. Toda sua vida, todo seu futuro é estabelecido pelo que a Sociedade julga melhor, e para ela não há nada de mal nisso. Ela confia na Sociedade, confia na sua organização e em seus dados, sabe que não tem como a Sociedade se enganar em algo. Na verdade, ela nunca sequer questionou isso, jamais. Nunca se tratou de uma decisão, mas simplesmente como as coisas eram. E as coisas não poderiam ser melhores: finalmente havia chegado o dia do seu Banquete do Par, algo com o qual vinha sonhando há anos, quando finalmente descobriria quem seria seu Par, quem seria a pessoa que passaria o resto da vida ao seu lado. E qual não foi sua surpresa ao descobrir que dentre todos os garotos de todas as Províncias, entre todos os dados e combinações, o seu Par perfeito seria justamente Xander, seu melhor amigo desde sempre? Parecia um sonho se tornando realidade, bom demais para ser verdade. Tudo seguia o rumo perfeito, como tudo mais na Sociedade, até que um erro de cálculo, um imprevisto, tirou a vida de Cassia dos trilhos. Ao abrir o microcartão de seu Par, aquele que lhe daria as informações que a Sociedade julgara necessário para ela saber (não como se ela já não soubesse, já que conhecia Xander como a palma de sua mão), outro rosto surgiu. Piscou na tela, coisa de poucos segundos, mas que foi o bastante para deixá-la confusa. Como aquela imagem poderia ter aparecido ali? A Sociedade não errava, simplesmente não cometia erros, então como haviam errado justamente na questão mais importante de sua estrutura, a seleção de Pares? E o pior: o rosto também era de um conhecido. Pela primeira vez em toda sua vida, Cassia se viu pensando fora do que a Sociedade planejara para ela, do que os dados e números lhe indicavam como o futuro certo, com o que era seguro. Seria possível, de fato, escolher seu próprio destino?

Toda a premissa parecia muito envolvente e instigante, mas, e me dói dizer isso, não gostei tanto do desenvolvimento. Dói dizer porque sonhei tanto, esperei tanto, gamei tanto na aparência, e me decepcionei ao ver que o conteúdo não era o que eu esperava. Não que seja ruim, mas não foi tudo o que eu estava esperando. Nesse primeiro livro conhecemos um pouco da rotina e funcionamento da Sociedade, mas não é explicado ao certo como ou porque ela surgiu. Sabemos como ela se estruturou, como ela curou os males que afligiam a humanidade (doenças foram praticamente erradicas, as pessoas nas Províncias centrais vivem bem e com saúde até os 80 anos, quando então tomam parte em seu Banquete Final e, bom, morrem) e um pouco sobre como ela opera e os artifícios que usa, mas a autora não se aprofundou muito nessa questão mais política. Quando comentei sobre o livro no grupo do Confissões no facebook, conforme lia, disse que era um romance distópico, mais puxado para o romance que para a distopia. O foco deste primeiro livro foi claramente o romance, a descoberta do primeiro amor, dos momentos preciosos e roubados de uma Sociedade que controla a tudo e a todos. É a descoberta de Cassia do seu desejo de livre-arbítrio, de poder decidir o que quer para a própria vida, mas sentindo-se ainda um pouco culpada por pensar assim, já que a Sociedade sempre fora boa para ela e sua família, e ela não deixava de pensar nisso como uma forma de rebeldia. Foi a luta entre o coração e a razão, entre o que ela queria e o que achava que devia, entre o calor e imprevisibilidade da poesia e a frieza e segurança dos números, das estatísticas.

Vemos a batalha interna da protagonista, entre aceitar o que a Sociedade escolheu para ela, ficando Xander, o confiante, familiar e seguro Xander, ou seguir o que seu coração parece pedir cada vez mais, trocando o certo pelo incerto, escolhendo a liberdade e vulnerabilidade que sente ao lado de Ky. Aqui temos mais um triângulo amoroso, mas que achei bem pouco explorado. Da forma que foi trabalhado o primeiro livro, acabamos conhecendo bem mais o Ky que o Xander, que acaba ficando mais em um segundo plano. É bom ver a história de Ky se desenvolvendo conforme ele vai revelando seu passado a Cassia, mas senti falta de um destaque maior para o segundo personagem, que às vezes parece nem existir. E, por mais que a autora tenha optado por revelar aos poucos a história de Ky, como se fosse um grande segredo, não me senti assim tão instigada a descobrir, não do tipo “AI MEU DEUS PRECISO DESCOBRIR O QUE ACONTECEU!“. Eu sou muito curiosa, mas muito curiosa mesmo, e, apesar de querer descobrir o que havia acontecido com ele e o que o levara a ser como era, não foi nada que realmente me parecesse um grande segredo.

Por mais que a história não tenha sido tudo o que eu esperava, não tenho o que reclamar da escrita nesse primeiro volume da trilogia. A Ally sabe como narrar bem os acontecimentos e sua linguagem é simples, mas sem ser pobre; bonita, sem ser desnecessária. Há certa “poesia” em suas palavras, além de sua história, já que muitos acontecimentos e decisões são baseados em dois poemas que o avô de Cassia lhe dá como presente. Alguns autores se perdem em meio a descrições, mas Ally soube muito bem como apresentar todo o cenário e acontecimentos, sendo sucinta quando era preciso e gastando mais tempo onde era necessário. E por isso fico tão confusa sobre minha impressão do livro. Eu gostei, mas esperava mais da história. A escrita vale a pena, mas os acontecimentos deixaram a desejar. Achei a história um pouco linear, sem altos e baixos, sem aquela emoção que faz seu coração pular uma batida ou sua mente acelerar com a ansiedade pela revelação. É um pouco parado, calmo e tranquilo, senti a falta de um grande clímax. Mesmo o fim, apesar de ser do tipo que te faz querer ler a continuação, não conseguiu me atingir como um grande acontecimento, algo marcante. Em síntese: foi bom, mas poderia ter sido ótimo.
Por ser o primeiro livro, resolvi dar uma folga e aceitá-lo como tal: o começo da história, quando ainda tem muita água para rolar. A esperança é de que os outros dois livros consigam me explicar o que ficou em aberto nesse (principalmente sobre a Sociedade, já que não sabemos praticamente nada sobre ela) e consigam aumentar o ritmo da história. Semana que vem posto aqui sobre “A Travessia”, o segundo livro da trilogia.